Activismo Juvenil em Rede
Objectivos
Da “Primavera árabe” ao movimento “Occupy”, passando pelo “Movimiento 15M” em Espanha ou pelos recentes protestos na Turquia e no Brasil, os últimos anos têm sido marcados, em várias partes do mundo, por múltiplas formas públicas de contestação, que embora irrompam nas ruas têm nas tecnologias digitais e na internet, especialmente nas redes sociais, um recurso crucial. Nos países do sul da Europa, em particular Portugal e Grécia, estas manifestações decorrem da agudização da crise económica, mas igualmente das suas repercussões sociais e políticas mais amplas. Neste cenário, vários grupos de jovens têm surgido como protagonistas de movimentos que procuram articular de alguma forma o descontentamento generalizado, que assenta igualmente no descrédito do próprio sistema político e das suas instituições e valores, criando modos alternativos de expressão e protesto.
O presente projecto pretende ser um contributo para uma reavaliação da participação pública, através do foco em formas não tradicionais de envolvimento político e cívico dos jovens (e não só), incluindo diferentes aspectos da cultura participativa relacionada com grupos específicos e novos movimentos sociais.
De modo a apreendermos a participação juvenil, tanto no seu sentido especificamente político e cívico como também simbólico e cultural, propomo-nos analisar as seguintes dimensões:
-
Diferentes formas de produção e expressão cultural (práticas, produtos, eventos) relacionadas com causas determinadas e com os protagonistas (individuais e colectivos – grupos, organizações, plataformas) envolvidos nas mesmas;
-
Modos de expressão (performances) e circulação (redes e circuitos, online e offline), através das quais os interesses partilhados são colectivamente encenados e celebrados;
-
As elaborações discursivas que as acompanham (representações, ideologias), mediante as quais as práticas são justificadas e os significados atribuídos.
Deste modo, para além de actividades esporádicas, relacionadas com eventos ou situações específicas, devemos considerar também o esforço continuo desenvolvido por indivíduos e grupos envolvidos em assuntos social e politicamente relevantes, mediante os quais não só põem em prática os interesses partilhados como constroem uma identidade comum.
Pretendemos, portanto, estudar e analisar diferentes práticas e os seus protagonistas em diferentes contextos. O facto de a participação nestes movimentos sociais poder ser tanto individual como colectiva, ligada a diferentes grupos e organizações, alguns dos quais parte de redes mais vastas, torna-nos conscientes da necessidade de identificar não só diferentes actores e as suas acções, mas igualmente a interacção complexa que poderá existir entre todos.
Para além das continuidades (ou convergências) entre os vários estudos de caso em questão, pretendemos igualmente encontrar possíveis descontinuidades (ou divergências) entre os actores (colectivos e individuais) estudados, não só no modo como as suas acções são organizadas, mas também no modo como reivindicações e assuntos localmente relevantes são articulados e justificados através de diferentes discursos.
Tendo em conta o papel desempenhado pelas redes e pelas tecnologias de informação e comunicação nos recentes movimentos sociais, é nosso objectivo apreender a forma como práticas e identidades políticas e cívicas organizadas fora da internet, podem também ser trazidas para o seu interior e, por sua vez, ser utilizadas como recurso na mobilização de actividades offline, revelando uma complexa inter-relação entre o online e o offline. Assim, uma questão crucial será: como é que estes utensílios tecnológicos são efectivamente utilizados por diferentes indivíduos e grupos e que relação possuem com as formas existentes de expressão (sobretudo offline)?
Assim, em termos gerais, pretendemos dar resposta às seguintes questões:
-
De que modo, através de que recursos – práticas, produtos e circuitos –, a juventude contemporânea expressa a sua contestação ou protesto relativamente a questões social e politicamente relevantes, revelando ao mesmo tempo a sua alternativa cultural e identitária?
-
De que forma a internet e outras tecnologias digitais são utilizadas tanto para organizar contestação e práticas culturais alternativas como para expressar identidades de diferentes indivíduos e grupos?
-
Finalmente, que convergências ou divergências existem nas formas de expressão, organização e nos discursos dos diferentes protagonistas nos vários contextos nacionais estudados?